Como é ser um profissional liberal no Brasil

Profissional liberal

O título deste texto da o ponta pé inicial numa discussão antiga, gasta porém atual sobre os rumos do mercado de comunicação aqui no Brasil. Falo isto porque atuo neste cenário desde 2015. Foi quando deixei de ser uma profissional salariada para ser uma profissional liberal.Mas a verdade é que, ser um profissional liberal no Brasil não é fácil, em nenhum sentido que possa imaginar.

Primeiro que para ser um profissional regulamentado, no meu caso uma micro empreendedora individual (MEI). Você precisa abrir uma empresa.

Depois é preciso pagar uma guia, chamada Simples Nacional no valor de exatos R$51,85 (não atualizados) todos os meses. Pois neste valor estão inclusos impostos como ISS (R$5) e sua contribuição para o INSS (R$46,85).

Cadastre um CNPJ par você

O que te dá direito a emitir um cadastro de CNPJ, emissão de notas fiscais, não precisando ter um serviço de contador (mas no fim das contas precisa sim) e a possibilidade de poder contratar até um funcionário para seu negócio.

Mas vai por mim, você não vai querer isto. Já que os encargos de um funcionário para um simples MEI são pesados demais.

Há quem diga que estes tributos são nada em conta do que empresas maiores pagam. Mas se colocarmos no papel todos os impostos pagos por um MEI e comparar com de grandes empresas, veremos então a desigualdade.

Pois tudo o que fazemos, desde o transporte até as ferramentas de trabalho tem impostos embutidos. O único incentivo do governo que recebemos são de vez em quando algumas palestras que o Sebrae oferece de capacitação e só.

O que vem depois da criação da empresa

Após ter a situação regularizada e ter seu tão sonhado CNPJ em mãos e NF com seu carimbo, você pensa: agora vou ter muitos clientes, UHU! Só que a realidade não é bem assim.

A prospecção de clientes é uma maravilha. Você dá o melhor de si, mostra seu portfólio, tabela de custos e os benefícios de seu trabalho. Tudo muito lindo, até que, ele te pede um DESCONTO NO VALOR DE SUA PROPOSTA.

Lembrando que vocês trabalham sob regime de contrato com tudo registrado no papel. Eu sou uma profissional liberal. Tenho meu CNPJ e sei quanto as coisas custam.

E que quando uma pessoa me passa o valor do seu trabalho, não fico negociando descontos. Pois tenho plena consciência quanto custa ela oferecer um serviço sendo autônoma.

Não existe coisa mais frustrante para um profissional liberal do que um cliente desvalorizar seu serviço achando que seu preço não vale tudo isso.

Tudo bem, ninguém é obrigado a saber de tudo mesmo, mesmo você explicando direitinho o que é o seu serviço. Por que ele é importante e quais os benefícios para aquele possível cliente e o negócio dele. Mesmo assim ele te responde com uma contra proposta pedindo um DESCONTO.

Não importa o quanto você argumente. Fato é que, não sei as outras áreas, mas em comunicação as pessoas ainda pensam que profissionais de design, publicidade, jornalistas, fotógrafos ou todo profissional free lancer que trabalhe com produção de conteúdo para web trabalha mexendo com computador e internet. E o pior, que isto é muito fácil demais e pouco o suficiente para se cobrar um valor justo pelo trabalho.

Quando decidi me tornar um profissional liberal

Desde que me formei na faculdade, em 2013, continuo investindo na minha carreira. Compro materiais de ponta para realizar meus trabalhos. Invisto em conhecimento para saber utilizar adequadamente estas ferramentas.

Me reciclar profissionalmente, acompanhar este mercado que muda muito diariamente. Porque preciso conhecer as tendências para saber o que oferecer aos meus clientes e poder obter o melhor resultado para eles.

Entenda, tudo isto que citei custa dinheiro e não é nada barato. Conhecimento custa caro, ferramentas de ponta custam caro. Poderia ficar aqui exemplificando até atingir meu limite de caracteres, mas prefiro acreditar que estes argumentos já bastam. Assim espero.

Eu não digo que gasto, eu invisto em conhecimento e ferramentas para meu trabalho. E invisto MUITO. Cursos de capacitação, computador de última geração, softwares profissionais, equipamentos fotográficos de ponta, bancos de imagens pagos e em dólar, energia (a mais cara do Brasil), internet de banda fixa e 4G e por aí vai.

Para tudo isto já bastaria você, profissional liberal, desconstruir todo o argumento de seu possível cliente. Mas ainda tem o valor da mão de obra. Aquele que agrega valor ao seu trabalho e faz com que você seja reconhecido no mercado.

Expectativa vs Realidade

Eu entendo, juro mesmo que entendo, o susto que um cliente leva quando damos os nossos valores para eles. Mas eles precisam entender que não é apenas uma pessoa mexendo na internet. Mas sim um profissional capacitado que não para de investir no próprio trabalho. Que várias vezes por mês recebe boletos para ele pagar as contas das ferramentas e cursos que ele adquire.

Pechinchar é muito bom, ganhar um desconto é melhor ainda. Mas o que muita gente não entende é que existem serviços e Serviços. Existem dois tipos de bens e serviços atualmente, pelo menos são os que eu conheço.

Um são aqueles produzidos de forma artesanal, independente por profissionais autônomos. O outro são bens ou produtos produzidos em escalas industriais. Ambos possuem encargos, taxas e impostos que devem ser pagos. Uns em valores diferenciados.

Porém, geralmente grandes corporações recebem incentivos governamentais como isenção de impostos devido ao volume de empregos e riquezas que produz.

Enquanto o profissional autônomo tem de arcar com todos os impostos sozinho. Incluindo pagar o próprio vale transporte, alimentação, plano médico e o que mais for necessário para o negócio dele funcionar. Tudo isto sozinho, sem incentivo do governo.

Profissional liberal e autônomo

Quando se pede desconto à uma empresa que presta serviços ou produz bens em escalas industriais, você não afetará o lucro líquido daquela organização. Pelo contrário. O processo num todo já é pensado e montado de forma que aquele desconto que eles oferecem aos clientes já estão diluídos no preço.

O que faz com que aquele valor “descontado”não interfira na balança daquela empresa. Já o profissional liberal (autônomo) tem a mesma capacidade de trabalhar no mesmo volume que uma multinacional.

Ele possui recursos escassos, mão de obra escassa e uma folha de pagamento que se não estiver alinhada com o que ele cobra, vai ficar no vermelho todo mês.

E este é um dos grandes motivos pelos quais de que, no Brasil, 60% das empresas abertas no país fecham suas portas nos primeiros cinco anos de vida, segundo estudos do SEBRAE.

O profissional liberal não tem meios para diluir o preço do seu serviço e oferecer um desconto a todo cliente. Por isto, você cliente não seja indelicado ao reclamar um desconto ou pior, dizer que o preço está “caro demais”.

Pode não parecer, mas esta atitude só ajuda a desvalorizar os serviços de qualidade que a cada dia estão ficando mais difíceis de serem encontrados. Lembre-se: não existem serviços caros demais. O que existe são clientes inadequados para determinadas demandas!

Jornalista, mineira de Belo Horizonte, 33 anos e apaixonada por cravo, canela, café e chocolate. A mistura perfeita para uma vida perfeita e feliz. Nascida na era da internet, blogo desde 2008.