O livro Herdeiros de Drácula é o tipo de leitura que quem ama a cultura e a mitologia dos vampiros precisa ter na estante. A obra é um compilado de contos que reúne diversos autores que escreveram sobre o assunto em uma época que antecedeu o romance mais famoso de Bram Stoker em 1897.Se você, assim como eu, penso que Stoker foi o pioneiro ao publicar este romance vampírico, então, sinto em dizer que você também está enganado. E neste post eu explico o porque!
O contexto social que originou Drácula
É muito importante pesquisarmos o contexto histórico da sociedade na época em que as obras são criadas. Pois, o momento diz muito da sociedade da época de seu nascimento. Drácula de Bram Stoker, por exemplo, foi publicado em um período pelo qual a sociedade democrática europeia passava por lutas de movimentos sufragistas.
Este movimento foi conhecido como a luta pelo direito ao voto direto feminino para escolha de seus representantes. Para entender melhor o tema, uma leitura de uma escritora que recomendo é o de Virgina Wolf. Pois a autora explica de maneira clara e sensata a causa feminina.
Mas você se pergunta, “o que Drácula tem a ver com isso?” e eu digo que tudo. Bram Stoker conseguiu de uma maneira muito sarcástica descrever em forma de romance o temos masculino de uma geração que era ter a mulher com a plenitude de seus poderes. Pois, basicamente em sua narrativa, Mina Karker era a donzela que precisava a todo custo ser protegida do vilão, o Conde Drácula.
Em toda obra, Stoker descrevia a figura feminina em dois anglos subjetivos extremos: uma como uma criatura completamente frágil e burra. Em outra ponta como uma figura sensual e completamente perigosa aos homens caso tomasse poder do próprio corpo e desejos.
Tudo isso foi muito bem enredado em uma trama que tinha como personagem principal um homem com poderes sobre a vida e a morte, que vivia às sombras e dominava as mulheres e outros personagens mais fracos através da mordida.
Herdeiros de Drácula uma herança social
A literatura é uma das melhores ferramentas de estudo para se compreender um determinado período de uma sociedade. Se quiser saber o contexto histórico e social de um país em um momento qualquer, basta visitar sua literatura e tentar entender aspectos como políticos e econômico a partir do que as pessoas escreviam, mesmo que de maneira ficcional sobre ele.
Em Herdeiros de Drácula não é muito diferente. Arrisco-me a dizer que Bram Stoker apenas aproveitou uma tendência na então Era Vitoriana, de 1837 a 1901. Que apesar de muito romantizada em algumas séries e livros da atualidade, este período do reinado da Rainha Victoria não foi tão romântico assim para o mundo e os ingleses.
Apelo pelo horror
Contos de imaginação, mistério e terror são temas ficcionais de fácil aceitação pelo público em geral. Pois mexe com o imaginário, deixando aquela sensação de “e se?” que a gente tanto adora. Mesmo sabendo que tudo não passa de estórias, nada nos impede de ficar com um certo medinho quando nossos pés ficam pra fora da cama. Imaginando que algo ou alguém possa nos tocar ou puxar.
Ou mesmo já ouviu falar do Bicho Papão que aparece quando desobedecemos nossas mães. Já ouviram falar no Homem do Saco ou do Opala Preto que pega as crianças quando estão na rua enquanto deveriam estar em casa fazendo seus deveres?
Histórias como essas possuem versões em inúmeras culturas em forma de lendas urbanas ou fábulas infantis que são usadas como instrumento de controle mental e social. Cruel? Talvez, mas muito eficiente. Pelo menos na minha época eu morria de medo de encontrar o tal Opala Preto quando estava brincando na rua, quando minha mãe mandava eu entrar.
O terror tem um apelo psicológico muito maior e é mais fácil vender uma história com fins de obter obediência. Por isso era muito comum no período de 1870 terem tantas publicações com o tema vampiresco. O momento politico e social da época, a própria atmosfera durante a revolução industrial contribuíram.
Sobre o livro Herdeiros de Drácula
Este exemplar especial foi publicado pela Dark Side Books no Brasil ao melhor estilo da editora: capa dura com uma diagramação impecável. O livro conta com 25 contos raros escritos entre o período de 1886 a 1940 reunidos por Richard Dalby e traduzido por Flora Pinheiro e Mariana Kohnert. Posso dizer de maneira mais consistente que as histórias envolvendo esta criatura da noite que se alimentava de sangue deu perfeitas condições para em 1897.
O que eu acho um equívoco chamar este livro de “Herdeiros de Drácula”. Sendo que a maior parte desses contos foram escritos e publicados antes mesmo da obra de Bram Stoker ganhar vida. Mas fato é, que um contexto político e muita imaginação deram vida a muitas histórias de horror com um toque sombrio.
Gosto deste estilo de narrativa, uma coletânea de contos, pois deixa o leitor mais livre para escolher a cronologia de sua leitura. Eu mesma comecei lendo o terceiro conto, que é “O Mistério da Campangna”. O que não mudará nem afetará em nada a qualidade e o meu entendimento das histórias. Que por sua vez, não possuem ligação entre si, a não ser pelo tema central das histórias.
O legado do Conde Drácula
E até onde sei, Drácula e outros contos vampíricos tem rendido muitas histórias, versões e adaptações cinematográficas e literárias. Se formos pensar em verdadeiramente em Herdeiros de Drácula, teremos:
- Panny Dreadfull (Série);
- Intreview with Vampire (Filme);
- Buffy The Vampire Slayer (Série);
- Blade (Filme);
- Van Hellsing (Filme e Série);
- Drácula – A História Nunca Contada (Filme);
- Drácula (Série da NBC);
- True Blood (Série);
- The Lost Boys: Os Garotos Perdidos (Filme).
São algumas das melhores séries e filmes já produzidos com o tema de Vampiro. Claro, como não podia deixar de acontecer, eventualmente surgem paródias ou mesmo produções de qualidade e originalidade duvidosas. Onde trabalham o tema de forma superficial e mais voltada para o entretenimento juvenil, como em Crepúsculo, me desculpem os fãs.
Ao longo dos anos, consumi tudo o que podia e tinha de bom sobre o tema não apenas de vampiro, mas de horror e mistério. Porém, Drácula de Bram Stoker ainda é a minha obra favorita. Apesar de todo o contexto da abordagem um tanto quanto misógina, essa é uma obra muito sincera e tem o seu valor. Por isso eu mais que recomendo a leitura tanto de Herdeiros de Drácula antes mesmo da obra de Bram Stoker.
E ntão, o que achou desta resenha sobre Herdeiros de Drácula? Se você já leu este ou outro livro com a temática de vampiro, compartilhe nos comentários sua experiência. Vou adorar descobrir outras referências da literatura vampiresco para ler!
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