Não é incomum ouvirmos que a gente precisa saber como ser resiliente em nossas vidas o tempo todo das pessoas. E é justamente o que eu mais tenho ouvido nos últimos meses por parte de parentes e amigos.
Mas ao mesmo tempo em que entendo a importância que tem em curarmos nossas feridas, sinto um certo perigo nesta prática exarcebada de superação instantânea.
De acordo com o dicionário Michaelis, no sentido figurativo (força de expressão) da palavra, resiliência é:
“Capacidade de rápida adaptação ou recuperação.”
Sempre existirão momentos em nossas vidas em que precisaremos enfrentar dificuldades e teremos de superá-las. No entanto, sabemos que algumas dessas dificuldades levam algum tempo natural para serem sanadas.
Mas o movimento que tenho presenciado é justamente contrário. Vejo uma cobrança maior por termos de nos recuperar em tempo recorde desses impasses da vida e seguirmos felizes. Seja esquecê-los, ignorá-los ou mesmo enfrentaá-los.
Perigo à vista
Ser resiliente o tempo todo pode ser um mecanismo de cura muito poderoso, disto não tenho dúvida. Porém não podemos nos esconder por trás dele e mascarar algo maior. Contudo, venho percebendo que as pessoas recorrem excessivamente à este método.
Com isso, as pessoas deixam de lado a necessidade de conversar com alguém e acertar as contas com alguém que os magoou apenas por acharem que devem evitar o conflito.
Eu mesma já me peguei reprimindo sentimentos ruins por achar que a resiliência seria o melhor caminho. O resultado foi um profundo estresse que resultou em queda acentuada do meu cabelo, distúrbio alimentar e humor oscilante.
Mas isso a gente não consegue perceber por conta própria. Apenas nos damos conta de como tudo está fora de controle quando pessoas ao nosso redor nos alertam.
Saber como ser resiliente
A resiliência não se aplica, por exemplo, em um período de luto. O luto é um processo, às vezes longo, que devemos atravessar e superar naturalmente. Sem forçar uma melhora, não importa quanto tempo leve.
Entenda que qualquer tipo de trauma psicológico merece um acompanhamento e tratamento adequado. Por isso falar com alguém ou um especialista é de grande ajuda. Nestes casos, a resiliência seria um paliativo para questões mais profundas que merecem abordagens mais técnicas e específicos. Não podemos simplesmente superá-las rapidamente.
Em outros casos, como ser resiliente nos momentos estratégicos da vida:
- Término de relacionamentos;
- Perda de um emprego;
- Exposição à situações estressantes;
- Encerramento de ciclos em nossas vidas;
- Mudança em nosso estilo de vida;
- Falência financeira.
Como ser resiliente e racional
Existem pessoas mais propensas a conseguirem pratica-la melhor que outras. Mas isto é tudo uma questão de prática do que genético. A mensagem que quero transmitir é que ser resiliente é muito importante sim.
Porém não devemos exagerar na dose e achar que vamos nos recuperar de todos os traumas fácil e rapidamente. É preciso entender que há certas demandas que precisamos dar um grito e jogar tudo o que nos sufoca para fora. Se preciso pedir ajuda sim.
É necessário termos em mente que a resiliência deve ser aplicada com moderação. Isto porque, se passarmos a atropelar nossos sentimentos, o efeito pode ser rebote. Adoeceremos a ponto de desenvolvermos quadros de surtos nervosos ou depressivos em casos mais extremos.
Resiliência não é algo ruim ou errado, entendam. Apenas alerto para pararmos de reprimir nossos sentimentos demasiadamente, para que assim possamos trabalhar nossos sofrimentos de forma racional.
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