Outros jeitos de usar a boca e um manifesto em poesia com textos sinceros

Outros jeitos de usar a boca

Quando o livro Outros jeitos de usar a boca de Rupi Kaur saiu  eu fiquei meio sem saber se compraria pra ler ou não. A dúvida surgiu por conta de algumas coisas que li sobre a autora na internet. Algumas polêmicas e outras nem tanto. Como resultado a maioria das coisas que li me deixaram um tanto quanto curiosa pelo livro. No entanto, o principal motivo na verdade era a minha vontade de ler autores contemporâneos de poesia.

Ja vinha algum tempo buscando uma nova safra de autores. Desses que fugisse da poesia tradicional que a gente acaba tendo contato quando começa a ler o estilo.

Sobre Outros jeitos de usar a boca

Um aspecto sobre este livro de Rupi Kaur que me chamou a atenção foi que seus poemas não possuem títulos. Na verdade a distribuição da leitura é muito interessante. Então temos aqui ilustrações feitas pela própria autora que substituem os títulos. No entanto ao mesmo tempo penso que a ausência de “nomeação” dessas histórias seja uma forma de Rupi Kaur tirar a identidade de seus poemas.

Porque grande parte da primeira parte do livro é justamente a busca da escritora por uma identidade. Como resultado, uma identidade de uma menina/mulher que passou parte de sua infância e adolescência vendo e sofrendo abusos de todas as formas.

Rupi Kaur

Rupi Kaur

Outros jeitos de usar a boca

O poema que me convenceu a comprar o livro foi este, que quase possui um nome: “- aos pais que têm filhos”. Acredito que este texto reflita a realidade de 100% das pessoas no mundo. Como não se identificar com algo tão realista? Quando vi este poema, foi um soco no estômago que tomei com a crueldade que nos conformamos em viver todos os dias.

Quem deve ler Outros jeitos de usar a boca?

Recomendo fortemente este livro para todas as pessoas que saibam ler. Contudo, digo isto, porque é uma obra obrigatória para todas as idades, sejam homens, mulheres, jovens idosos e crianças. Com ela podemos ter uma dimensão de como perpetuamos a cultura da violência doméstica de forma inconscientemente. Assim como recomendo que todos leiam a obra de Virginia Woolf para entender mais sobre os desafios de ser mulher. Mais do que isto, Outros jeitos de usar a boca aborda temáticas passíveis de discussão como:

  • Relacionamentos abusivos;
  • Violência doméstica;
  • Violência sexual;
  • Carência afetiva;
  • Ausência de uma referência masculina na vida de uma mulher;
  • Esteriótipos de gêneros.

Experiência de leitura

Faz algum tempo que Outros jeitos de usar a boca ou Milk and Honey recentemente ganho uma versão de capa dura. Da qual unifica justamente as duas versões da obra de Rupi Kaur com textos originais em inglês e os traduzidos para o português. Eu particularmente prefiro o título e a arte da capa original. Mas achei bastante espirituosa a nossa tradução, pegou bem na essência do que o livro fala.

Outros jeitos de usar a boca são textos sinceros demais pra gente poder ignorar na prateleira da livraria. A obra divide-se em quatro partes, das quais eu achei genial a maneira como a autora a construiu.

  1. A dor;
  2. O amor;
  3. A ruptura;
  4. A cura.

Rupi Kaur é uma mulher de intensidade obscura, uma colecionadora de cicatrizes tão profundas que eu me perguntei ao terminar a leitura: será que estão curadas? Seu livro é uma forma de redenção ou de socorro?

Rupi Kaur

Rupi Kaur

Rupi Kaur

Outros jeitos de usar a boca trouxe alivio, ao mesmo tempo um desespero em ter a verdade nua e crua.  Jogada na cara escancaradamente. Contudo, acho muito importante lermos e discutirmos os temas abordados aqui com seriedade. Precisamos aprender a ouvir as outras pessoas despidas de preconceitos, fundamentos ideológicos ou religiosos e tomar uma atitude.

Se você já leu esta obra ou algum texto da autora e gostaria de compartilhar conosco suas impressões, deixe nos comentários sua opinião. Nos diga o que mais gostou de ver aqui na resenha e o que faltou!


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Jornalista, mineira de Belo Horizonte, 33 anos e apaixonada por cravo, canela, café e chocolate. A mistura perfeita para uma vida perfeita e feliz. Nascida na era da internet, blogo desde 2008.