Virginia Woolf e uma discussão necessária sobre privilégios

Virginia Woolf

Finalmente estou lendo pela primeira vez alguma obra da escritora britânica Virginia Woolf. Sempre ouvi maravilhas sobre sua escrita e de como ela revolucionou a escrita feminina no século XIX.

Um teto todo seu é uma coletânea de seis ensaios mais prefácio e notas de diário feitos pela escritora após uma palestra dada por ela “em duas faculdades exclusivas para mulheres”.

Este livro me abriu um novo olhar de como escrever as situações em nossas vidas. É minha primeira leitura de uma escritora inglesa. Aliás, quero que 2018 seja o ano em que eu mais invista na literatura britânica.

Além disso, Um teto todo seu também me ensinou sobre os abismos culturais entre homens e mulheres que vivemos e aceitamos até hoje.

Uma passagem marcante no livro, Virginia defende que para a mulher ser livre para escrever, ela precisa ser livre financeiramente, e isso, consequentemente, a proporcionará um teto só nosso, onde poderemos nos dedicar exclusivamente à escrita.

Na empreitada, Woolf utiliza uma parcela de fantasia para tratar de uma questão por demais real – a assimetria dos papéis sociais destinados à mulher e ao homem, que recebiam atribuições e privilégios bastante distintos.

Um Teto Todo Seu

Sob o teto de Virginia Woolf

Mesmo em 1920 já consagrada como uma escritora renomada, Virginia ainda se queixava desta discrepância no tratamento entre os sexos. Ela ainda chegou questionar nesta obra sobre Shakespeare e sua irmã. Caso ela tivesse o talento para a escrita, ela seria fartamente reconhecida como o irmão.

Esta e muitas outras indagações acerca da vida da mulher na literatura preenchem as páginas e Um teto todo seu. Obra esta em que Virginia Woolf defende que mulheres escritoras precisam de um teto e meios de se sustentar. Pois só assim poderão escrever ficção.

A educação não deveria aflorar e fortalecer as diferençar em vez das similaridades?

Um Teto Todo Seu

Quem tem medo de Virginia Woolf?

A leitura é bastante agradável e de um entendimento muito fácil. Porém por se tratar de ensaios em tons mais líricos foi um choque ao me deparar com este tipo de linguagem textual. Ao longo da leitura, muitas referências são apresentadas aos leitores. A maioria são de obras e escritores que inspiraram Virginia Woolf em sua trajetória de escrita.

Recomendo esta livro para leitores que desejam expandir suas mentes limitadas a conceitos arcaicos de nossa sociedade. Recomendo também para quem levanta a bandeira do feminismo, ou também para quem não, pois, uma boa leitura é sempre recompensadora.

Recomendo, principalmente, esta leitura para quem deseja abrir uma discussão sobre privilégios e segregação entre os gêneros, para que assim, de forma leve e civilizada, possamos discutir sobre um assunto tão importante como é o machismo em pleno século 21.

A poesia depende da liberdade intelectual. E as mulheres sempre foram pobres, não só por duzentos anos, mas desde o começo dos tempos. As mulheres gozam de menos liberdade intelectual do que os filhos de escravos atenienses. As mulheres, portanto, não tiveram a mais remota chance de escrever poesia.

Mas para quem deseja conhecer ou quer uma sugestão de leitura de entrada sobre Virginia Woolf, recomendo expressamente este livro de ensaios dela. Principalmente se viermos de uma série de leituras pesadas.

Tais como biografias ou ficções de terror. Um teto todo seu é um alívio nas tardes de outono que todo bom devorador de livros precisa ler.

Jogando luz nas sombras

Durante a leitura, várias vezes, me ocorreu a sensação de não estar compreendendo bem o sentido temporal dos ensaios. Não sei se isto se deve à forma como foram traduzidos estes ensaios ou se é coisa minha.

Mas a verdade é que, por exemplo, no ensaio 2, Virginia cita a importância de movimentos feministas em prol da dignidade das mulheres em sua época.

Pois já em 1910 as mulheres questionavam o fato dos homens terem mais privilégios e serem mais aceitos do que nós. E isso ela mostrava com fatos e exemplos de experiências que ela vivia.

Mesmo sendo uma mulher branca, herdeira aristocrata numa Inglaterra pós vitoriana, Virginia ainda era uma mulher e sentia isso na pele. Porque, por mais independente que ela fosse, para a sociedade da época, ela era uma mulher que não devia servir de exemplos para as outras.

Hoje reconheço que, graças a mulheres como Virginia Woolf, eu também sou uma mulher que vive de sua escrita, trabalha e recebe por isso e sou reconhecida pelo meu ofício.

Mas, uma coisa que ainda me incomoda muito é que, mesmo sabendo que nós mulheres somos a maioria nas salas de aulas e universidades, somos minoria em nossas profissões de formação. Como isso é possível?

Virginia Woolf

Update da leitura

Ao ler o livro, fiquei curiosa em relação ao movimento feminista na Inglaterra e sua origem, pois a autora não entra em muitos detalhes ou explica brevemente do que se tratava. Então resolvi fazer o que mais gosto: contextualizar historicamente a minha leitura.

Fui ao dicionário de Oxford e pesquisei a palavra “feminist” e me deparei com esta informação. Uma dica/lição para esta situação é: editoras, é preciso colocar notas de rodapé também para este tipo de palavra.

Já que ela representa um movimento importante. Pode parecer pouca coisa, mas isso faz uma diferença enorme para o leitor.

E foi assim que tive o meu primeiro contato com a obra de Virginia Woolf. Estou tão encantada com a escritora, que só ouvi falar coisas maravilhosas, que estou pesquisando outras obras para ler.

Se você, assim como eu, gostou dessa leitura e tem outra obra de Virginia Woolf para me indicar, por favor, deixe o nome do livro ou ensaio nos comentários. Vou adorar ler e conhecer mais de sua obra!

Jornalista, mineira de Belo Horizonte, 33 anos e apaixonada por cravo, canela, café e chocolate. A mistura perfeita para uma vida perfeita e feliz. Nascida na era da internet, blogo desde 2008.

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